Tratado da Invenção das Coisas
- Performance
- transdisciplinar
Date
- Jul 25 2022 - Ago 03 2022
- Expired!
Time
- All Day
The event is finished.
SINOPSE
Tratado da Invenção das Coisas
Não existiria este corpo não fossem estas feridas que inventei. Este corpo tatuado com os meus afectos e afectações, reais e ficcionais. Pensava, enquanto era tatuado que esta inscrição no meu corpo era uma forma de compreensão de mim próprio e da minha vida, mas simultaneamente uma leitura (inventada) do mundo.
Tratado da Invenção das Coisas é uma performance onde explano esse corpo, essa invenção de uma vida, enquanto construo um cenário, uma enciclopédia viva do meu entendimento das coisas.
MEMÓRIA DESCRITIVA
Tratado da Invenção das Coisas
Em Outubro de 2018 sabia da iminência da morte da minha mãe. Em Outubro de 2018 fiz as minhas primeiras 3 tatuagens, das 19 que tenho hoje. Nesse momento sombrio da minha vida iniciei este projecto de performance que compreendia a invenção, na minha pele, de coisas (objectos, animais, contos, lições, ideias, matérias, etc.), coisas que vão compondo em mim e para mim, uma narrativa.
Impelido pela noção de que muitas das nossas concepções do mundo e de nós próprios são fabricações, invenções, inculcadas em nós por outros, pelo nosso contexto, pelas nossas experiências, comecei a construir este Tratado da Invenção das Coisas.
Influenciado pela noção de enciclopédia de Umberto Eco, como um espaço multidimensional de semiose, estas coisas que tatuo são parte da minha produção pessoal de significados, em relação a referentes universais. A invenção de um violino, como tatuagem (essa é a primeira invenção), é simultaneamente a invenção do violino que o meu avô tocava, a invenção do violino em si mesmo, como coisa, e a invenção mais ampla da música e do silêncio.
No Tratado da Invenção das Coisas, interessa-me o acto de inventar, inventar o meu corpo percebendo nele o que é a História da Tatuagem, a minha autobiografia e a natureza das coisas, pressupondo que tudo tinha uma natureza anterior à nossa (pessoal e global) invenção delas.
Desde Outubro de 2018 que tenho vindo a tatuar o meu corpo e a documentar esse acto. Tenho viajado até Barcelos para ser tatuado, numa colaboração muito estrita com uma tatuadora.
Imagino a performance Tratado da Invenção das Coisas como a criação, em palco, de um cenário. Imagino esse cenário composto por 3 ecrãs, onde são projectados vídeos de cariz diverso – do corpo; documentais; da cena, ao vivo – enquanto, em palco, vou pondo em cena (num mise-en-scéne literal) os diversos objectos tatuados, como se as tatuagens se materializassem. É a
invenção de um espaço onde as coisas tomam forma física. Imagino este espaço como uma das caixas do Joseph Cornell, como um gabinete de curiosidades, onde se avolumam estas coisas, onde se acumulam narrativas sobre elas, os seus enleios, as suas raízes, razões e paixões.
Desde Outubro de 2018 quando comecei este Tratado da Invenção das Coisas, (ainda sem este nome) a minha mãe ainda era viva, e esta minha invenção tinha também este propósito de me tornar mais eu, para a minha mãe morrer sabendo que eu ficaria bem.
Eu queria inventar-me. Inventar-me como me imaginava. Inventar-me acumulando em mim e à minha volta os objectos (no seu sentido ontológico mais amplo) do meu afecto. Inventar-me, ficcionando na pele. O tempo que decorreu desde então permitiu-me compreender e ainda vou compreendendo a promessa de possibilidades que é inventar uma vida (Bio). É essa promessa que quero partilhar no Tratado da Invenção das Coisas.
BIO
Daniel Moutinho nasceu em Lisboa, em 1989.
Licenciado em Teatro pela Universidade de Évora (2007-2010). Pós Graduado em Artes da Escrita na FCSH (2011-2013). Mestre em Arte Multimédia, especialização em Audiovisuais pela FBAUL (2014-2018). Frequentou workshops com Manuel Vason, Hancock & Kelly; Cia. Phillipe Genty e Guillermo Gomez Peña.
Criador das performances Absolutamente Falso, apresentado no FIKE em 2009; Cravo, apresentado no Festival Escrita na Paisagem em 2011; Outra Lição de Anatomia, apresentada na Exposição Internacional Tadeusz Kantor, em Évora, na exposição Máquina Tadeusz Kantor no SESC Consolação em
São Paulo, e na Settimana Kantoriana, em Salerno, em 2015; e A Fila Para o Pão, apresentado em Évora, em 2020.
Foi co-criador e intérprete na peça Filhos do Retorno, do Teatro do Vestido (2017-2018).
Dramaturgo de É quando choro que tenho a certeza que estou a morrer apresentado na Malveira em 2010 e O meu não lugar apresentado em Maputo, em 2019.
Foi assistente de dramaturgia e tradutor de Kaite OʼReilly e Philipp Zarrilli no Festival Escrita na Paisagem 2010.
Foi assistente de encenação da peça Ocupação do Teatro do Vestido e documentalista no Arquivo-Vivo da companhia, em 2019.
Curador da plataforma From My Window, com Nuno Veiga, em 2020. Formador no workshop Auto-Retrato de um Reflexo Nebuloso: entre a escrita autobiográfica e a imagem do corpo confinado, com Samara Azevedo, no 9º Festival de Artes Cénicas de Bauru, no Brasil, em 2020.